Alberto Signoretti

10 de abr de 2023

Novas religiões nas máquinas?

Nós, humanos, somos bons em antropomorfizar coisas, objetos, animais, enfim, qualquer coisa que nos remeta à forma humana. Não é à toa que animações, como as da Pixar (ex.: Wall-E ou Carros), nos levam a criar forte empatia com robôs e automóveis mesmo que, aos olhos da razão, não se pareçam em nada com humanos. Mas, se conseguimos ver nos focinhos dos pets os rostos de seus donos, realmente podemos enxergar expressões humanas em quase tudo...

Agora, um rápido exercício mental. Imagine um Echo Show da Amazon – um Echo Dot com um tablet acoplado - onde a Alexa nele contida, use o GPT-4 para responder às suas perguntas e se torne capaz de manter uma conversação fluente, quase humana. Associe ao tablet do equipamento o desenho dinâmico de feições, como as que a Eva – namorada do robô Wall-E – usa no filme, sincronizadas com a conversa que você está tendo com a Alexa...

Você empatizaria com essa Alexa turbinada? Seria capaz de desenvolver uma relação de "amizade" com essa "pessoa" virtual? Não precisa ser nada muito forte, como o que é mostrado no filme Her de 2014, onde Theodore, escritor interpretado pelo ator Joaquin Phoenix, se apaixona pela voz de seu sistema operacional, apenas uma relação de cumplicidade. Seria possível? Bem, eu acho perfeitamente possível, especialmente em uma sociedade na qual estamos cada vez mais individualistas e sozinhos como evidenciado nesse triste artigo https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/04/10/a-revolta-de-vizinhos-apos-corpo-ser-achado-em-apartamento-em-londres-2-anos-apos-morte.ghtml.

Sendo assim, o GPT-4 abre uma possibilidade real de envolvimento "amoroso" de humanos com bots de IA! Lembre-se que, em 2022, um engenheiro do Google foi demitido depois de passar um tempo afastado para avaliação psicológica por assegurar que o modelo de IA LaMDA tinha emoções e era senciente https://gizmodo.uol.com.br/apos-afirmar-que-ia-e-consciente-engenheiro-do-google-e-afastado/. Outro artigo, mostra que reações como essa não serão estranhas ou incomuns num futuro próximo https://time.com/6257790/ai-chatbots-love/.

A possibilidade desse tipo de interação é um processo completamente novo e, do que estamos vendo nesse curtíssimo espaço de tempo, é perfeitamente plausível termos, em breve, pessoas endeusando bots de IA e criando as raízes para novas religiões baseadas nesses modelos de linguagem https://theconversation.com/gods-in-the-machine-the-rise-of-artificial-intelligence-may-result-in-new-religions-201068 . É uma mudança social extremamente profunda, e com consequências completamente desconhecidas. Nos resta ficar atentos e acompanhar os acontecimentos...

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